A crença na reencarnação constituía um dos dogmas das comunidades cristãs primitivas, mas depois foi considerada herética e banida da teologia cristã no Segundo Concilio de Constantinopla em 553 d.C.
Primeiro foi Bezerra de Menezes, depois Chico Xavier e agora, com a direção de Wagner de Assis, e com o apoio da FEB (Federação Espírita Brasileira), o cinema brasileiro lança Nosso Lar, mais uma adaptação à obra literária, talvez a mais famosa, de Chico Xavier.
Tendo em vista que o Brasil é o país com o maior número de adeptos ao espiritismo, é quase certeza que, com pouco tempo de exibição, o investimento do filme seja rapidamente recuperado.
O ampla aceitação das diversas correntes do espiritismo no Brasil se deve a vários fatores, sendo que um dos principais é a atratividade do dogma da reencarnação frente ao não tão atraente dogma cristão da ressureição. Vale lembrar que uma grande parte dos espíritas aqui no Brasil são católicos “flex”, que, ao mesmo tempo que preferem a reencarnação do que a ressureição, também não abandonam totalmente o cristianismo.
Ao condenar a doutrina da reencarnação, a igreja, consciente ou não disso, deixa escorregar pelas mãos uma enorme quantidade de adeptos. Mas o que a grande maioria desses adeptos, ou ex-adeptos, desconhece é que antes não era assim: a reencarnação era uma das doutrinas oficiais da igreja.
Mas então o que houve? O que fez a igreja mudar de idéia e criar o dogma da ressureição? Vamos então aos eventos históricos que resultaram nessa substituição de doutrinas.
A condenação da doutrina da reencarnação surgiu de uma ferrenha oposição pessoal do imperador Justiniano ao Concilio da igreja, seguindo ordens de sua esposa. Segundo Procópio, a ambiciosa esposa de Justiniano, que, na realidade, era quem manejava o poder, era filha de um guardador de ursos do anfiteatro de Bizâncio. Ela iniciou sua rápida ascensão ao poder como cortesã.
Após sua ascensão ao poder, decidiu se libertar de seu passado que a manchava. Para isso, ordenou mais tarde, a morte de quinhentas antigas "colegas" cortesãs. Mas isso não era suficiente.
Para não sofrer as consequências da morte de suas antigas colegas em uma outra vida, como preconizava a doutrina da reencarnação, empenhou-se ainda em abolir de vez qualquer vestígio dessa doutrina usando a influência de Justiniano para fazer com que suas intenções fossem transformadas em “ordem divina".
Assim, em 543 d.C., o imperador Justiniano, sem levar em conta o ponto de vista papal, declarou guerra frontal aos ensinamentos do papa Orígenes, condenando-os através de um sínodo especial. Em suas obras DePrincipüs e Contra Celsum, Orígenes (185-235 d.C), já havia reconhecido abertamente a existência da alma antes do nascimento e sua dependência de ações passadas.
Esse sínodo especial convocado por Justiniano teve como participantes apenas os bispos ortodoxos do oriente e nenhum de Roma. Nem mesmo o próprio papa participou pois estava em Constantinopla na ocasião.
O Concilio de Constantinopla, o quinto dos Concílios, não passou então de um encontro, mais ou menos em caráter privado, organizado por Justiniano, que, mancomunado com alguns vassalos, excomungou e maldisse a doutrina da pré-existência da alma e da reencarnação, apesar dos protestos da Papa Virgílio, com a publicação de seus Anathemata.
A conclusão oficial a que o Concilio chegou após uma discussão de quatro semanas teve que ser submetida ao Papa para ratificação. Na verdade, os documentos que lhe foram apresentados (os assim-chamados "Três Capítulos") versavam apenas sobre a disputa a respeito de três eruditos que Justiniano, há quatro anos, havia por um edito declarado heréticos. Nada continham sobre Orígenes.
Os Papas seguintes, Pelágio I (556-561), Pelágio II (579-590) e Gregório (590-604), quando se referiram ao quinto Concilio, nunca tocaram no nome de Orígenes.
O edito de Justiniano foi então aceito pela igreja na seguinte forma: "todo aquele que ensinar a pré-existência da alma e sua monstruosa renovação será condenado".
Não costumo acreditar em ditados. Mas no caso do famoso ditado “Todo grande homem tem sempre por trás uma grande mulher”, foi exatamente por isso que os cristãos condenam até hoje a crença na reencarnação.
Observação: apesar de ser uma crença tentadora, não estou aqui defendendo a crença na reencarnação. Meu intuito é apenas falar sobre fatos históricos que moldaram as crenças atuais.